No episódio final da primeira temporada da nova série Cosmos, Neil
deGrasse Tyson lê alguns trechos do livro Pálido Ponto Azul, de Carl Sagan. O
pálido ponto azul é a Terra vista de bem longe, fotografada por uma sonda perto
de Saturno.
Visão de Saturno (Cassini): 1,5 bilhão de km Foto: Nasa/Divulgação 19/07/2013 |
Transcrevo aqui:
“Olhem de novo para o ponto. É ali. É
a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos,
de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou
viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as
inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e
saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis
e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos
os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos,
"superastros", "líderes supremos", todos os santos e
pecadores da história da nossa espécie, ali – num grão de poeira suspenso num
raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em
uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os
generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores
momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas
cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal
distinguíveis de algum outro canto, em seus frequentes conflitos, em sua ânsia
de recíproca destruição, em seus ódios ardentes.
Nossas atitudes, nossa pretensa
importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo é
posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho
solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, em
meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo,
virá socorro que nos salve de nós mesmos.
A Terra é, até agora, o único mundo
conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos no futuro próximo,
para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Goste-se ou não, no momento
a Terra é o nosso posto.
Tem-se dito que a astronomia é uma
experiência que forma o caráter e ensina humildade. Talvez não exista melhor
comprovação da loucura das vaidades humanas do que esta distante imagem de
nosso mundo minúsculo. Para mim, ela sublinha a responsabilidade de nos
relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o
pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.”
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